The last voyage

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Capítulo 1: O apagão

Era mais um dia frio e monótono na cidade de Troudtsville, os dias mais frios que a cidade tinha registro, ja eram quase nove horas da noite e um engarrafamento longo percorria por toda via principal.
Troudtsville era uma cidade modelo, muito organizada e bem administrada, tudo era perto de tudo, o que tornava a vida nesta cidade, boa.
Só havia uma escola na cidade inteira e um novo rosto se misturava entre os alunos do segundo ano.
 Um garoto de aparência rebelde mas ainda assim um rapaz quieto, fazia três semanas que pegara transferência de sua escola anterior e estava se adaptando a sua nova vida em Troudtsville.
A aula naquele dia começou como sempre, fazia três semanas que Mauro estava nessa nova vida porém com problemas para se adaptar.
 Mauro vivia somente com sua mãe, os dois desde que seu pai os abandonara viviam se mudando de cidade, sua mãe nunca aceitou o sumiço e tampouco a explicação deixada por ele, "Precisei fazer isso, siga em frente sem mim, espero que me perdoe.", um casamento de mais de vinte anos acabar num bilhete era inconcebível, mas ela nunca mais foi a mesma, criou Mauro sozinha e sempre que tudo parecia bem se mudava para outra cidade.
 Mauro cresceu com a agonia e os distúrbios de sua mãe, sem amigos e sem perspectiva de vida, sempre encarava as mudanças de cidade como um recomeço.
"- Droga, droga, droga."
Pensava Mauro olhando a prova de matemática na mesa.
"- Como é que eu vou fazer esta prova?!" Mauro deu um leve olhar para a esquerda espiando a prova da colega. "- Bom talvez dê pra colar..." Era praticamente impossível colar sem que a professora observasse tudo. "- Ah, deixa quieto, sem chances de eu passar de ano mesmo."
Mauro então chama a atenção da professora e diz:
- Posso ir ao banheiro?
A professora que estava a ler um livro em sua mesa, simplesmente lhe lançou um olhar sobre os óculos, e disse:
- Sabe que isto é uma prova né?
- Sei! - Disse Mauro.
A professora se levanta, vai até a carteira de Mauro e então fala:
- Olha Mauro...Eu não acho que você vá passar de ano, suas notas da escola anterior te condenam e conhecendo você nestas ultimas semanas, não acho que você tenha chance alguma de vencer na vida. - Os demais alunos na sala pararam um instante e prestaram atenção na conversa. - E como eu sei que você não está nem aí pro seu futuro, vou lhe dar a chance de escolher...
Mauro com um olhar intimidador pergunta:
- Escolher?
 Então ela continuou enquanto voltava a sua carteira:
- Se quiser ter a chance de mostrar que é capaz, que aí dentro existe um pouco de...potencial, fique na sala, agora se quiser mesmo que eu acredite que não vai cabular com esta desculpa esfarrapada de que vai ao banheiro... A porta está logo ali!
Neste momento, todos na sala olharam para ele, na expectativa do óbvio, então...
- Vou ao Banheiro! - Disse Mauro.
 Então levantou da cadeira, pegou sua mochila e saiu da sala, andando pelos corredores, moscas rodeavam as lampadas que piscavam incessantemente, desceu as escadas e foi até o banheiro, não parava de pensar um só momento na ideia de voltar para a sala e terminar aquela prova, mas já era tarde demais, já havia feito sua escolha. Ao segurar a maçaneta da porta do banheiro, ele ouve alguém chorando, confuso ele abre um pouco a porta e pergunta:
- Tem alguém ai?
Uma voz fina e chorosa responde:
- Sim... Já estou saindo!
Mauro afastou sua mão da maçaneta e em seguida a porta se abriu mais, era uma garota ruiva com expressão triste no rosto, cabelos lisos que se estendiam até os ombros, olhos azuis como o mar, mas marejados de lágrimas, ela tentava disfarçar secando seu rosto com a manga de sua blusa:
- Desculpe, eu estava chorando escondida aqui.
Dizia ela tentando se recompor.
Mauro ao perceber que ela se constrangia por falar disso, apenas sorriu inocentemente.
- Ah...
Disse mauro sem desviar o olhar.
Enxugando os olhos, ela parou um instante e fitou ele por alguns segundos.
- Estranho né?
Perguntou a garota.
- Bom... - continuou Mauro - ...no banheiro masculino.
Ela sorriu, e ele correspondeu seu sorriso, e rindo foram voltando para as salas juntos:
- Como se chama?
Perguntou a menina mais animada:
- Mauro! E você?
- Melissa.
 Agora ja não aparentava aquela expressão triste em seu rosto, Mauro percebeu isso e continuou:
- Hmm...você é do segundo D?
- Não...terceiro F!
 Respondeu Melissa sorrindo.
- Ah, então você tem dezessete anos, não é Melissa?
- Não, dezesseis!
 Respondeu ela.
Agora estavam terminando de subir as escadas, Melissa já não parecia aquela menina que chorava no banheiro, mesmo sem assuntos extraordinários, os dois estavam se dando muito bem.
 Ele fazendo uma careta de curioso fala:
- Eu também tenho dezesseis...mas, como você esta no terceiro se...
- EI MELISSA, PRECISO FALAR COM VOCÊ!
Gritou alguém de longe, era um rapaz alto e loiro que tinha um porte atlético que chamava a atenção de muitas garotas da escola.
- Depois agente se fala Mauro!
Disse Melissa já se afastando indo em direção ao rapaz.
- Ok... Agente se vê!
Um pouco decepcionado com o fim de uma conversa tão boa, Mauro continuou andando pra sala, entrou e sentou no seu lugar, a professora fingiu nem notar ele, Mauro já não tinha mais paciência nenhuma para a prova, apoiou a cabeça sobre os braços cruzados na carteira e ali ficou, segundos depois a luz da sala piscou rapidamente, ele ergueu a cabeça observando o ocorrido, parecia que ninguém havia notado, ele continuava olhando a lampada quando piscou novamente, agora ele já achava aquilo muito estranho, quando ele já aguardava a terceira piscada da lampada, aconteceu.

 As luzes se apagaram tornando impossível enxergar um palmo a frente do nariz, na sequencia um grito agudo e sinistro tomou o local, o eco tornava o grito praticamente sem fim, até que parou. Mauro não ouvia nada, nenhum ruído, nenhum barulho, ninguém se mexendo, nada, o que aumentava ainda mais a tensão.
Ele se levantou e andou pela sala tropeçando e esbarrando nas carteiras e cadeiras agora vazias, chegou ate a porta e abriu, dando de frente para o corredor agora um pouco visível, pois a luz da lua passava pelos vidros da janela e iluminava precariamente o local.
Mauro andou pelo corredor esperando ouvir algo normal, uma voz conhecida para acabar com sua perturbação:
- Ei...Tem alguém aqui!
Mas nada se ouvia.
- Droga!
Mauro não conseguia achar uma razão lógica para isso, realmente estava ficando assustador, não poderia ser pegadinha pois todos sumiram num piscar de olhos, perdido em seus pensamentos agora perturbados, Mauro escutou um suspiro e um gemido vindo do interior da sala mais próxima a ele no corredor.
- Olá?
Disse Mauro se aproximando da sala que estava em um escuro profundo, foi então que ouviu a voz de uma garota.
- Eu...Eu não vejo nada...O que aconteceu? - Perguntou a garota.
Mauro ainda não podia vê-la sob aquele escuro da sala.
- Apagão! - Respondeu Mauro imediatamente, ainda tentando enxergar a origem da voz da garota - Vem siga o som da minha voz.
Mauro pode ouvir ela se aproximando, seus passos estavam lerdos e descompassados, logo ela apoiou suas mãos nos ombros de Mauro, ele a ajudou a sair da sala, pois logo percebeu que ela não conseguia andar direito, quando a luz da lua clareou o rosto da garota, Mauro a jogou no chão com um empurrão.
Ela tinha cabelos loiros, e uma vestimenta toda branca, velha e rasgada, o que era mais apavorante eram seus olhos, pois ela não os tinham, e ao invés disso dois buracos em carne viva que sangravam.
 Agora Mauro começou a ter certeza de que não estava em seu juízo perfeito, isso era loucura.
- Me ajuda...
Suplicou a menina que se arrastava em direção a Mauro, e foi ai que ele viu a perna direita da garota, quebrada e com um osso pra fora, jorrando sangue.
Ao ver aquela cena as pernas de Mauro enfraqueceram, a ponto de cair sentado no chão, quase sem reação ele se afastava dela rastejando de costas ainda sentado no chão, pois o medo havia paralizado suas pernas. A menina o segurou na perna e com um movimento brusco que Mauro fez, rasgou um pedaço da barra de sua calça, neste momento Mauro ouviu alguém lhe chamar, em fração de segundos virou a cabeça para a esquerda procurando quem o chamava e voltou sua atenção para o ser bizarro, na intenção de chutar a garota, viu o resto do corredor vazio, sem sangue, sem garota, sem nada.
- Mauro você está bem?
Ele se assustou até perceber que era Melissa quem o chamara a pouco.
- Ah...Melissa!É você!
Mauro estava suando frio, o que fora aquilo que havia acabado de acontecer?
Melissa estendeu a mão para Mauro para ajudá-lo a levantar, aos poucos ele foi sentindo sua perna recobrar os movimentos.
 Melissa o ajudou a ficar de pé e logo percebeu que havia acontecido algo, ele estava pálido.
- O que houve?
 Perguntou Melissa.
Ainda olhando para o local onde a pouco havia uma garota sem olhos, tentou responder calmamente.
- Não sei...
 Mauro que pensou a pouco ter perdido o juízo, tentou achar as palavras corretas e não demonstrar estar mesmo ficando louco:
- As luzes se apagaram e até agora ninguém da minha sala deu um "pio", lá dentro esta mais escuro que aqui.
 Melissa que continuava sem entender porque ele estava ali, daquele jeito pergunta:
- Mas por quê você estava no chão, Mauro você está pálido!
Ele deu mais uma olhada para a porta da sala e para o chão, lembrando do que havia acontecido segundos antes, sem saber se foi real ou alucinação, em seguida viu no rosto de Melissa que ela estava assustada e confusa, decidiu não deixá-la mais em pânico.
- Nada não, eu só caí...Tropecei. Mas, você tem ideia do que aconteceu?
 Mauro queria saber se com ela aconteceu da mesma forma que com ele.
- Não sei - Respondeu Melissa - Eu estava lá em baixo com o Daniel.
Mauro cresceu o olho e não se importou em perguntar:
- Daniel?
- O motivo de eu estar chorando no banheiro masculino.
- Ah ta. - Neste momento ele olhava pra qualquer lugar menos pra ela - E cadê ele?
- Não sei, ele...simplesmente sumiu!
Mauro tornou a olhá-la nos olhos e perguntou:
- Antes ou depois das luzes se apagarem?
- Depois!
 Agora as coisas estavam começando a ter lógica neste meio bizarro, primeiro o apagão e depois o sumiço.
- Estranho. - Disse Mauro começando a andar desconfiado pelos corredores da escola iluminada somente pela luz que a lua emitia pelas janelas de vidro, olhava para os lados ainda assustado, Melissa o seguia.
- Aonde você vai?
 Perguntou Melissa.
- Até a secretaria. Alguém deve saber o que está acontecendo!
Melissa tentava acompanhar os passos de Mauro.
- Mauro, você não acha estranho?
Mauro ja estava próximo a biblioteca.
- O quê?
Melissa ainda tentava acompanhar ele.
- Ninguém falar nada, a escola toda tão quieta, o sumiço repentino.
 Era um alívio para Mauro saber neste momento que ele não era o único a pensar sobre tudo isso:
- Sim muito estranho, desde que aconteceu estou procurando achar lógica em tudo isso.
- Peraí!
Melissa parou de chofre em frente a uma sala que estava com a porta aberta, mas assim como as outras totalmente escura.
- O que foi?
Perguntou Mauro.
- Eu estou ouvindo algo!
Mauro chega mais perto dela.
- O quê?
Ela então olhou para ele e sussurrou.
- Tem alguém ali
Mauro neste momento segurou a mão dela e a levou dalí.
- Não...não tem!

Chegando a secretaria a porta estava trancada, Mauro tentou ver algo através do vidro, mas a escuridão era total.
- Esquece, a secretaria esta trancada e não tem ninguém lá, tem alguma outra ideia?
Perguntou Mauro enquanto observava através do vidro.
- Não sei! Vamos até o portão ver se dá pra sair.
- Ok! - Respondeu Mauro.
Os dois se dirigiram ao portão de entrada e saída da escola, mas estava trancado.
- Ótimo - Disse Mauro em um tom sarcástico - Beleza, estamos presos nesta escola sinistra e escura.
Mauro estava agoniado por não saber o que estava acontecendo e não poder sair dali.
- E agora?
Perguntou Melissa com a voz baixa.
- EU NÃO SEI TÁ!
Gritou Mauro. Ela se surpriendeu ao ouvir o tom de voz que ele acabara de exaltar.
Mauro percebeu que passou dos limites, Melissa não tinha culpa do que estava acontecendo, estava tão nisso quanto ele:
- Olha desculpa tá?
Disse Mauro arrependido.
- Tudo bem!
Os dois então se calaram e ficaram ali sentados de costas para o portão, vários minutos se passaram e ninguém aparecia.
- Eu estou começando a ficar com medo - Disse Melissa se encolhendo por causa do vento frio.
Mauro tirou sua blusa e ofereceu a Melissa.
- Toma, pegue!
 Disse Mauro abrindo sua blusa para Melissa entrar nela.
- Não Preci...
- Pega logo, vai.
Ela vestiu a blusa e se sentiu mais protegida, talvez pelo fato de estar sentindo seu corpo esquentar, mas algo lhe dizia que não era pela blusa.
- Serio, eu não sei por quê vocês vem com blusas tão curtas.
Melissa olha para Mauro, incrédula.
- Vocês?
- É, vocês garotas.
Responde Mauro com um sorriso leve no rosto.
Melissa olhava para a lua que brilhava intensamente através do vidro da janela.
- Nossa, pensei que os garotos gostassem de ver garotas com roupas curtas.
 Disse Melissa sorrindo;
- É...Mas é inverno, e você estuda a noite. - Mauro olha pra ela - Isso é burrice.
Ela então começa a sorrir.
- Que foi?
Pergunta Mauro sem entender o sorriso.
- Você é diferente - Agora melissa olhava para ele - Não se sentiu atraído por mim, e pensa de um modo diferente de todos os garotos que já conheci.
Mauro olhava nos olhos de Melissa.
- É, eu sou diferente...Mas isso não significa que não senti atração por você.
Os dois se olharam por alguns segundos, até escutar uma voz que vinha do corredor.
- MELISSA, ACHEI SEU LIVRO!
 
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